sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Apenas (a minha) opinião


No dia 18 de Junho de 2010, Portugal perdeu um homem de escrita inigualável. Contudo, a falta da substância sólida que acompanha o Homem pela sua efémera passagem pela vida terrena (leia-se corpo) não impede que se afirme e até consolide a magnificência da sua vasta obra.

É importante que se leia Saramago, que se leia cada vez mais e mais. É ainda mais importante que as entidades competentes inculquem, nas camadas mais jovens, o gosto pela leitura, em geral, e pelo “estudo” do Nobel, em particular. Porém, se é verdade que é necessária a existência de pessoas e grupos que fomentem a literacia no nosso país, é de igual forma verdade que não conseguiremos ser cidadãos mais cultos e instruídos se a iniciativa não partir de cada um de nós (se é que me faço entender).

Voltando a Saramago, devemos perceber que, à parte ideologias políticas e cores partidárias, é preciso que todos vejam a sua obra por dois pontos fulcrais que aqui saliento: primeiro, a luta pela defesa dos mais fracos, dos mais pobres e mais desfavorecidos, por aqueles que independentemente do tempo histórico sempre foram tidos como “marginais” pela restante sociedade; segundo, a riqueza cultural que nos ofereceu, não esquecendo o nível a que conseguiu elevar a língua portuguesa.

Para os amantes da Pátria, até mesmo os mais conservadores, esta é uma qualidade difícil de contrariar. Por muito que se reme contra a maré, este pode ser o melhor dos argumentos, a mais sofisticada das persuasões: a capacidade de o autor fazer relembrar Portugal, a sua língua e cultura ao mundo. Digo isto não esquecendo obviamente que com a regra vem a excepção e admitindo assim o dogmatismo de algumas mentes, que chega a ser de tal forma medíocre ao ponto de negar o talento, trabalho e criatividade de alguém que o mostrou em cada um dos seus livros. Nem todos temos de apreciar Saramago, mas não reconhecer o seu talento, a meu ver, torna-se problemático.

A obra é longa, a vida é curta – um género de vaticínio daquilo que é o desígnio do homem? Talvez – mas a vida que o autor teve, proporcionalmente curta relativamente àquilo que a todos era capaz de oferecer, não impediu que nos deixasse um tesouro em mãos – seremos nós dignos de o honrar? – Não saberei responder, mas por tudo isto e algo mais (que em simples palavras não se pode evidenciar com precisão) tiro-lhe o chapéu.

3 comentários:

Bernardo disse...

Ainda bem, espero ver-te lá mais vezes

Rafeiro Perfumado disse...

Infelizmente não partilho da tua opinião, pois não consigo separar as coisas. Como homem foi de uma qualidade duvidosa, bastando recordar o saneamento político que promoveu quando esteve no DN, despedindo quem não era da sua ideologia. Como português, e apesar de ter tido um papel importante na divulgação da nossa literatura, não me esqueço que defendia a ideia de uma Ibéria com capital em Madrid. Como escritor, detesto a forma como ele escreve, mas aí é mesmo só o meu gosto pessoal.

Rafeiro Perfumado disse...

E eu, já que estamos numa de elogiar, apreciei o facto (raro) de aceitares a minha opinião, mesmo esta sendo totalmente contrária à tua. É da discussão saudável que eu gosto e essa só pode surgir quando existem posições antagónicas mas que se respeitam. Uma beijoca e por hoje esgotei as palavras sérias, eu juro que não costumo ser assim...